Autocuidado do Terapeuta

Quando o assunto é autocuidado do terapeuta, pode parecer um tanto óbvia a importância dessa prática.

 

Contudo, já pude me deparar com dois tipos de discussões: observar aqueles que defendem o autocuidado do terapeuta e seu bem-estar a qualquer custo; e aqueles que costumam entender isso como um problema ético, num sentido de que o maior beneficiado de um processo terapêutico deve ser o cliente.

É claro que o maior beneficiado de um tratamento deve ser o cliente. Exemplo: um terapeuta que interrompe o processo de um cliente por não se avaliar pessoal e tecnicamente capaz para o caso – e que fez todo o manejo técnico e ético necessário para essa interrupção – possivelmente beneficiará seu cliente. E, também, estará sendo cuidadoso consigo mesmo.

Cada situação, analisada funcionalmente, trará o componente que necessita de observação quando o assunto é conduzir um caso clínico E compreender as características pessoais, habilidades e competências técnicas do terapeuta que compõem o cenário do que seria uma prática de autocuidado com relação ao caso atendido.

O autocuidado do terapeuta anda lado a lado com as responsabilidades éticas. O bem-estar do cliente e o autocuidado do terapeuta não são excludentes um do outro. São complementares.

No campo da psicoterapia, a discussão sobre o autocuidado do terapeuta e seu impacto no bem-estar do cliente é constantemente aprofundada e debatida por profissionais comprometidos em oferecer o melhor atendimento possível. Em muitos casos, a defesa do autocuidado é mal interpretada como uma postura egoísta que coloca o terapeuta em primeiro lugar, em detrimento do cliente. No entanto, essa perspectiva é um equívoco.

Como mencionado anteriormente, o maior beneficiado de um processo terapêutico deve ser o cliente. Isso não pode ser negligenciado de forma alguma. Afinal, a essência da psicoterapia reside em fornecer apoio e orientação ao cliente, auxiliando-o a alcançar seus objetivos e superar desafios. Quando um terapeuta opta por interromper um processo devido à sua própria avaliação de limitações pessoais e técnicas, ele está agindo de forma ética e responsável. Dessa forma, o cliente é protegido de uma possível intervenção inadequada e tem a oportunidade de buscar ajuda mais adequada para suas necessidades.

Além disso, é crucial reconhecer que cada caso clínico é único e requer uma análise funcional cuidadosa. Ao considerar a prática do autocuidado do terapeuta, é essencial avaliar as características individuais do profissional, suas habilidades técnicas e competências pessoais. Essa abordagem personalizada é fundamental para garantir que o terapeuta esteja capacitado para lidar com as complexidades do caso, garantindo assim um tratamento eficaz e bem-sucedido.

Quando o terapeuta se dedica ao autocuidado, ele está, de fato, se preparando para ser o melhor profissional possível para seus clientes. Isso inclui a busca contínua de aprimoramento profissional, a supervisão adequada e o autoconhecimento. Afinal, um terapeuta que se mantém atualizado com as mais recentes abordagens terapêuticas e que está consciente de seus próprios limites é mais capaz de oferecer intervenções eficazes e resultados positivos.

A interseção entre o bem-estar do cliente e o autocuidado do terapeuta é mais do que apenas complementar – é uma sinergia essencial para uma prática terapêutica ética e eficiente. Quando o terapeuta se cuida, ele está investindo em sua própria capacidade de oferecer um ambiente terapêutico de qualidade, no qual o cliente pode florescer e encontrar apoio genuíno.

Portanto, é fundamental que a comunidade terapêutica promova uma cultura de autocuidado, na qual os profissionais se sintam incentivados a cuidar de si mesmos, ao mesmo tempo em que se comprometem com a responsabilidade de fornecer o melhor atendimento aos seus clientes. Ao reconhecer essa relação simbiótica, estamos construindo uma base sólida para uma prática terapêutica saudável e gratificante, beneficiando tanto os terapeutas quanto os clientes.

Concluindo, o autocuidado do terapeuta não é uma escolha egoísta, mas sim um imperativo ético e profissional que fortalece a qualidade da psicoterapia oferecida. É uma abordagem que reafirma o compromisso com o bem-estar do cliente e coloca os terapeutas em um caminho de crescimento e aprimoramento contínuo. Cuidar de si mesmo é cuidar do outro.

Com carinho,

Gabi. 🫂❤️

 

– Fontes que inspiraram esse post:
Nissen-Lie, H. A., Havik, O. E., Hoglend, P. A., Monsen, J. T., & Ronnestad, M. H. (2013). The contribution of the quality of therapists’ personal lives to the development of the working alliance. Journal of Counseling Psychology, 4, 483–495.
Norcross, J. C., & Lambert, M. J. (2019). Psychotherapy relationships that work. Oxford University Press, New York.

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